Se a finitude é inevitável, como podemos lidar com ela?
- selmapiranicabral
- 11 de fev.
- 3 min de leitura

A finitude é um tema que nos acompanha desde sempre. Desde os primórdios, tentamos compreender e lidar com a certeza de que a vida tem um fim. Na psicanálise, essa questão se desdobra em múltiplas camadas, revelando aspectos inconscientes que moldam nossa relação com a morte e o sentido da vida.
O Encontro com a Finitude
Freud refletiu sobre a morte e como ela afeta nossa mente. Percebeu que temos duas forças internas opostas: uma que nos impulsiona a viver, amar e crescer, e outra que, mesmo sem percebermos, nos leva a atitudes destrutivas ou à aceitação do fim. Para Freud, essa luta interna influencia nossas emoções, nossos medos e até nossas escolhas diárias.
Dessa forma, podemos entender que a finitude nos impulsiona a viver. Afinal, o medo da morte está sempre presente no inconsciente, manifestando-se em angústias, sintomas e defesas psíquicas e, para escapar desse medo, buscamos segurança, trabalho, relações e até fantasias de imortalidade.
A Morte e a Cultura
A forma como lidamos com a morte está profundamente ligada à cultura em que vivemos. Freud acreditava que a civilização surgiu, em parte, como uma maneira de dar respostas ao medo da morte. Desde os tempos mais antigos, os seres humanos criam rituais, tradições e crenças religiosas para enfrentar essa realidade inevitável. Os funerais, os mitos sobre a vida após a morte e até mesmo as homenagens aos que partiram são formas de tentar dar um significado à perda e tornar a ideia da finitude mais suportável. Essas práticas nos ajudam a elaborar o luto e a seguir em frente, encontrando conforto e sentido diante da transitoriedade da vida.
O Luto e a Transformação Psíquica
Outro aspecto essencial da finitude é o luto, que pode ser entendido como um processo emocional e psicológico necessário para lidar com a perda. Em "Luto e Melancolia" (1917), Freud descreve o luto como uma reação natural à perda de alguém ou de algo significativo, seja um ente querido, um relacionamento, um trabalho ou até um sonho que não se concretizou. Durante esse período, é comum sentirmos tristeza, saudade e uma necessidade de reorganizar nossa vida sem aquilo que perdemos.
A psicanálise entende o luto como um trabalho interno que nos ajuda a dar um novo significado à perda, permitindo que sigamos em frente sem negarmos a dor. Esse processo envolve aceitar a ausência, expressar os sentimentos e encontrar formas de seguir adiante, mantendo a lembrança do que foi perdido, mas sem ficar preso ao sofrimento.
No entanto, quando a perda não é facilmente reconhecida ou simbolizada, pode-se instaurar a melancolia, um estado de profunda tristeza no qual a pessoa se identifica tanto com o objeto perdido que acaba internalizando esse objeto e o sofrimento gerado por sua perda. Isso resulta em uma sensação de vazio existencial, que muitas vezes parece impossível de ser preenchido. Esse vazio acontece porque a perda não é elaborada de forma simbólica, fazendo com que a pessoa fique presa em um ciclo de autocrítica e desvalorização. Nesse estado, a dor não é apenas pela ausência do objeto perdido, mas também pela sensação de estar se perdendo, o que pode gerar um sofrimento intenso, profundo e prolongado.
Finitude e Sentido da Vida
Se a finitude é inevitável, como podemos lidar com ela? A psicanálise nos convida a reconhecê-la como parte da vida e a ressignificar nossa existência a partir desse reconhecimento. Em vez de negá-la, podemos usá-la como um impulso para viver com mais autenticidade, estabelecendo vínculos profundos, investindo em nossos desejos e aceitando que a vida é feita de ciclos e transformações.
Tomar consciência da finitude nos leva a um posicionamento mais verdadeiro diante da vida. Em vez de temermos a morte, podemos enxergá-la como uma força que nos motiva a viver com mais intensidade e significado.
Aceitar a finitude pode transformar nosso medo em potência, nossa angústia em criação e nosso desejo em força vital. Afinal, é justamente porque sabemos que a vida tem um fim que podemos escolher vivê-la com mais intensidade e autenticidade.
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